A preparação do cantor Daniel na novela "Paraíso"
O trabalho de preparação e de Coach para o cantor (e ator) Daniel na Novela "Paraíso" da Rede Globo de Televisão - direção de Rogério Gomes e autoria de Benedito Rui Barbosa - obrigou-me exercitar a difícil capacidade de lidar com as "sombras" do ser real (o ator) e do ser ficcional (o personagem) de modo diluído e sem pretensões. Isso não quer dizer mais fácil ou mais difícil, não. Quer dizer que atuar pode ser assim: falar, olhar, andar e gesticular horizontalmente. A verticalidade da atuação em novelas não existe e isto torna o trabalho tortuoso e possível de tornar-se risível e mais bobo ainda.Preparar um ator para uma novela e acompanhá-lo por quase dez meses foi uma vivência nova para mim. Esse foi meu 2009. Acostumado com filmes e suas imersões em universos dimensionados, a novela subverte isso pois possui uma ânsia, uma vontade de engolir toda e qualquer possibilidade da respiração orgânica e do tempo dramático que o ator tanto precisa. Ela quer sempre mais, sempre mais...e por vezes esse "mais" é, e será, sempre "menos". Quase nada as vezes, nivelado em águas rasas, seco até. Pouco, rápido e facilmente esquecido.
A mim, resta dizer que aprendi. E me descobri também. A total liberdade que me deram (e isso, fiquei sabendo não é tão comum pelas bandas de lá) me fez ser cada vez mais invisível. Meu trabalho foi absoluto e próximo ao ator, porém, completamente "invisível". E acho que é assim que deve ser. O foco e a essência contemplativa são requisitos dados aos atores. Ao coach e preparador resta, nestes momentos de set, o delicioso instante de observar e agir silênciosamente. Criar possibilidades ao ato solitário diante das câmeras. Para então, o solitário artísta, ir compartilhar com milhões, esse pequeno instante íntimo. Instantes esses que se perpetuarão. É magnífico este momento.
Em tempo: Parabéns ao Daniel pela indicação como ator revelação no PRÊMIO EXTRA de TV 2009 do Jornal Extra (OGlobo), do Rio de Janeiro.
Tomo o produto novela, como o produto jornal impresso. São tantas informações naquele dia que no dia seguinte já não servem mais. Outras novas virão e as antigas - boas ou ruins - haverão muito o que embrulhar na salgada lembrança daqueles que, por horas, se alimentaram daquilo.
No entanto, em meio a esse "oceano" global de águas esparsas, estavá lá eu, Daniel (essa parceria desde o filme "O Menino da Porteira" tem sido muito reveladora e de resultados positivos e interessantes) e um elenco calejado com o traquejo novelesco. Elenco, diga-se de passagem (e isso não tem empresa-produtora boa ou má que irá determinar) muito generoso e encantador. Estavámos lá, repito, procurando/achando um jeito, uma forma de atuar (ele e eu também) que não destoasse. O que, para um bom cantor, seria imperdoável.
Encontramos. Nossa (minha mais do que a dele) experiência em cinema apontou um caminho adequado para seu trabalho com os colegas da emissora e para a direção da produção. Aulas semanais de preparação, imersão no roteiro, a palavra como objeto propulsor das ações internas e externa e o acompanhamento das gravações como "Coach" foi o processo nesta novela. E acho que por isso deu tanto certo. É verdade, pode-se acertar sim!! E entre altos e baixos (poucos) a atuação de Daniel foi digna, precisa e relevante, mesmo sendo a primeira aventura dele nesta linguagem.
Em tempo: Parabéns ao Daniel pela indicação como ator revelação no PRÊMIO EXTRA de TV 2009 do Jornal Extra (OGlobo), do Rio de Janeiro.
Comentários
Há de chegar o dia em que ganharemos todos com sua mudança de lugar para um lugar mais "visível" a nós, leigos.
Sucesso moço! Você faz por merecer.