Reencontrando o ator no teatro.

Quando o teatro não é menos nem mais. É apenas singular!

O cinema, nos quase dez anos de convívio intenso, me revelou na prática uma dimensão do trabalho do ator genuína. E digo genuíno no sentido de puro, sem misturas e interferências de construções exacerbadas e desproporcionais. Mas ao mesmo tempo nada próximo a um naturalismo corriqueiro, raso e de pretensões puramente "orgânicas". Uma viagem artística onde o ser ator dialoga diretamente com o ser personagem em um jogo que somente cessa no "corta". Nele, o "corta" do diretor, a expressão termina e o resultado permanece na película, por um tempo que o próprio tempo não sabe determinar.

O teatro, nos quase vinte e cinco anos de convívio sofreu de um tempo para cá uma pausa nas minhas inquietações. Agora volta. E como volta.
Rever esse ator em cena, retumbante e de um grito latente tem me deixado incomodado. Um incomodo bom, de crescimento, vislumbramento e redescobertas.
Afetado que estou pelo cinema, pela imagem, fragmento e corte esse reencontro com o ser ator nas condições de pleno domínio da cena e da efemeridade do ato transforma meu olhar num instante de delicadeza que somente o "plano fechado" poderia proporcionar. Me aproximo do mais íntimo de cada respiração e procuro nela toda alma, toda vida, toda sorte que possa expressar a ação de existência do personagem. E o ator no teatro, senhor de todas as "obrigações" neste caso, passou a ser minha obsessão. As cavidades de sua complexa e divinal arquitetura física, sensorial e racional a serviço de uma arte que some com o apagar das luzes. E entender esse momento agora, depois de um processo de distanciamento e aproximação de outros meios, tem me deixado sem dormir.

Dirigir, atuar e lecionar. Eis o que o teatro me fez reencontrar. Tudo e todos ao mesmo tempo. Eis a origem da minha existência. O cinema, parceiro recente no meu processo de investigação do ator, agradece.